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ESPECIAL PARIS: ROTEIRO PARA ESTUDANTES E AMANTES DA MODA EDIÇÃO 2025

Atualizado: há 4 dias


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Como de costume, em fevereiro estive em Paris para cobrir a Première Vision, um dos eventos mais importantes da indústria da moda. Aproveitei essa oportunidade não apenas para participar da feira, mas também para explorar roteiros que envolviam moda, cultura e educação.


Neste ano, assim como nos anteriores, minha programação foi repleta de ateliês, exposições, feiras e visitas a empresas que trouxeram novas inspirações e aprendizados.


Fiquei empolgada em realizar essa viagem e em vivenciar todas essas experiências, que pude planejar com antecedência nas semanas que precederam minha ida.


Como sabem, sempre elaboro roteiros detalhados, definindo exatamente onde irei e o que pretendo visitar em cada lugar. Essa organização não só facilita minha preparação, como também me permite aproveitar ao máximo cada momento, focando plenamente na experiência de estar presente, interagindo com as pessoas e absorvendo o ambiente.


Ter um plano estruturado me ajudou a maximizar cada instante, garantindo que nenhuma oportunidade valiosa passasse enquanto me conectava com a cultura e a criatividade local.


Agora, estou ansiosa para compartilhar todas essas experiências com vocês e mostrar tudo o que vivi nesta viagem inesquecível, vamos lá?


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DIA 1 - DOMINGO: COMPRAS E REPAROS EM PARIS


Eu tenho um hábito antigo que é deixar o primeiro dia para compras, pois normalmente são itens que eu já usarei durante a viagem.


Então para começar, deixei minha mala no hotel e em seguida fui caminhando até às Galerias Lafayette, sempre uma parada obrigatória. Almocei por lá e vou atrás de alguns itens que pretendia comprar nas marcas Bottega Veneta (bolsa), Max Mara (calça de lã flanelada) Diptyque (velas e perfume para o cabelo) e no espaço de beleza comprei um shampoo em barra da Davines.


Minha lista de compras dessa vez é bem resumida e os outros itens que faltarão são: poncho estilo gaucho na Hermès, lápis Blackwing na Sennelier, tesoura e aviamentos na Bohin e Fil 2000, chás na Kusmi Tea, os catálogos das exposições que visitarei, uma sapatilha de ballet para mim e para a minha filha na Repetto e por fim uma passada na Caudalie.


Galerias Lafayette

Haussmann40 Bd Haussmann, 75009 Paris, França


Também precisei ver um acessório do meu tênis na Golden Goose, então fui até a loja física onde eles tem um atelier de reparos e um atelier de customização.


Fiquei fascinada pela proposta da marca e confesso que comprei o tênis por recomendação de um amigo, que destacou seu extremo conforto. Além disso, a estética também me atraiu: afinal, um tênis branco com uma aparência de "sujinho" proposital é uma ótima escolha para quem busca praticidade e um estilo além do óbvio.


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Enquanto faziam a reposição da letrinha que havia caído, estive conversando sobre a marca e seu posicionamento em relação à sustentabilidade, e pretendo abordar esse tema de forma mais aprofundada aqui no blog.


Para adiantar, a marca possui um processo de restauro dos tênis, no qual um profissional experiente realiza reparos essenciais, como troca de solado e reparação interna. Além disso, também oferecem a possibilidade de personalização, garantindo que cada peça ganhe uma nova vida e continue a ser usada de maneira consciente. Essa abordagem não apenas prolonga a vida útil dos produtos, mas também reflete um compromisso com práticas sustentáveis e com a redução do desperdício.


Golden Goose

1 Rue des Saints-Pères, 75006 Paris, França


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DIA 2 - SEGUNDA-FEIRA: FÁBRICA E VIAGEM DE TREM ATÉ A NORMANDIA


FÁBRICA DE AGULHAS E ALFINETES BOHIN


O despertador tocou cedo, às 06:00 horas, para pegar o trem rumo à famosa fábrica da Bohin, uma renomada fabricante de produtos de costura, especialmente famosa por suas agulhas e alfinetes de alta qualidade.


A fábrica fica na cidade de Saint-Sulpice-sur-Risle, na Normandia, interior da França. Eles tem uma espécie de museu e visitação guiada de tempos em tempos, porém ela está fechada ao público no momento. No entanto, consegui agendar minha visita com um tour guiado, graças ao trabalho que venho realizando no blog.


Essa oportunidade foi especialmente significativa, pois me permitiu explorar de perto os bastidores de uma marca tão icônica, da qual sou fã. Pude entender melhor o processo de produção e descobrir os segredos da qualidade que marcam cada produto da Bohin.


A viagem até a Normandia também foi uma atração à parte; afinal, essa região é famosa por sua arquitetura, que é um fascinante mosaico de estilos que contam a história da região desde a Idade Média até os dias atuais, combinando tradição e inovação de forma harmoniosa.


A experiência foi enriquecedora em todos os sentidos, e estou ansiosa para compartilhar mais sobre tudo o que vivenciei, afinal a fábrica tem quase 200 anos e todo o processo de desenvolvimento das agulhas e alfinetes é digno de um post detalhado por aqui!


Bohin

1 Le Bourg, 61300 Saint-Sulpice-sur-Risle, França


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FUNDAÇÃO AZZEDINE ALAÏA


No retorno para Paris ainda deu tempo de explorar os brechós, comprar materiais na Fil 2000 Mercerie e de visitar a Fundação Azzedine Alaïa, um espaço dedicado a preservar o legado do estilista tunisiano, que nos deixou em 2017.


Localizada na sede do próprio Alaïa, em Paris, a fundação ocupa o que foi a sua casa e ateliê, proporcionando uma conexão íntima com sua vida e obra.


A Fundação não apenas homenageia suas contribuições à moda, mas também acolhe uma coleção impressionante de suas criações, oferecendo aos visitantes uma visão detalhada do seu processo criativo e das inspirações que moldaram sua carreira.


Além disso, a fundação organiza exposições, palestras e eventos que celebram a arte da moda, garantindo que a influência de Alaïa continue a ser compartilhada com novas gerações.


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Além das exposições, o espaço conta com um ateliê dedicado à manutenção do acervo, além de uma cafeteria acompanhada de uma livraria. A curadoria é exclusiva, disponibilizando apenas livros sobre moda e design, criando um ambiente perfeito para os amantes dessas áreas. É um local que combina conhecimento, inspiração e uma experiência agradável.


Azzedine Alaïa Foundation

18 Rue de la Verrerie, 75004 Paris


Para fechar a noite com chave de ouro, fui jantar no L’Escargot Montorgueil, um restaurante lendário no coração dos Halles, inaugurado em 1832. Ao passar pelas portas do número 38 da rua Montorgueil, você é transportado para outra época, envolto em um deslumbrante décor do estilo Segundo Império.


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Como sabem, nessas viagens a trabalho, costumo viajar sozinha. Portanto, os momentos das refeições são meus "encontros comigo mesma" ou melhor, aqueles momentos em que fico sem celular, degustando um vinho, absorvendo o espaço, a cultura local e as pessoas ao meu redor.


Durante esses devaneios, penso em como pratos e hábitos se transformam em experiências refinadas, muitas vezes tendo origens em momentos de dificuldade ou miséria, como é o caso do escargot.


Embora na Pré-História já fosse consumido, para alguns historiadores, eles marcaram a transição do Mesolítico para a Neolítica, por serem fáceis de criar e consumir e pode ser considerado uma verdadeira inovação na história da alimentação. E com o passar dos milênios, o escargot manteve seu lugar na cadeia alimentar de povos pobres e de exércitos antigos. Mas, ao longo do tempo, virou uma iguaria refinada, cara e apreciada por elites. Um escargot leva meses para atingir o tamanho ideal, sendo delicado e sensível às condições de cultivo, o que ajuda a explicar seu preço elevado hoje em dia.


Não poderia deixar de pedir, é claro, o menu degustação como entrada, que incluía escargot trufado, escargot com foie gras e o tradicional da casa, todos acompanhados de um delicioso Chardonnay.


Sempre que viajo, busco experimentar sabores e pratos típicos locais, pois isso me ajuda a compreender melhor a cultura e os hábitos do lugar. Essa é uma das partes mais incríveis de viajar: depois de provar uma refeição feita com ingredientes locais e o talento regional, mesmo que eu experimente o mesmo prato em outro país, a experiência nunca será exatamente igual. Essas experiências gastronômicas enriquecem a viagem e criam memórias únicas e especiais.

L'Escargot 38 Rue Montorgueil, 75001 Paris, França Site




DIA 3 - TERÇA-FEIRA: PREMIÈRE VISION E SARA COUTURE


PREMIÈRE VISION 


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Comecei o dia na abertura do primeiro dia da Première Vision, uma feira essencial no calendário da moda, onde faço aqui para vocês a cobertura pela quarta vez consecutiva. Este evento é como uma vitrine que reúne os principais expositores do setor têxtil e de moda, oferecendo uma visão abrangente do que está por vir na próxima temporada.


Durante a feira, apresentei os expositores e compartilhei insights sobre as palestras, onde especialistas discutem as tendências e inovações que moldarão o futuro da moda e o meu objetivo é ajudar vocês a entenderem a importância da feira e, mais importante, o papel fundamental da pesquisa individual na interpretação das tendências.


Ao longo dos próximos conteúdos sobre a feira, irei destacar como cada um pode aplicar as informações adquiridas de maneira autoral, desenvolvendo suas próprias identidades criativas.


A Première Vision não é apenas um espaço para ver as novidades da indústria, mas uma oportunidade de inspirar-se e refletir sobre como essas tendências podem se encaixar em seus projetos. Com uma boa análise e interpretação, vocês poderão integrar essas influências em seus trabalhos, contribuindo para um cenário da moda mais diversificado e autêntico.


O tema central desta edição é o ARTESANAL e em tempos de IA nada mais apropriado para debatermos, não é?

Esse é um assunto que trarei em detalhes aqui para o blog, então acompanhe os conteúdos diretamente aqui na categoria especial da PV.


Première Vision

Paris Nord Villepinte Paris



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ATELIER SARA


Em seguida, na parte da tarde visitei novamente o Atelier Sara, uma tradicional empresa familiar parisiense fundada em 1986, que se especializa no desenvolvimento e na fabricação de roupas de alta qualidade e acessórios de luxo.


Localizado no coração do Xème arrondissement, o atelier orgulha-se de ser um dos poucos sobreviventes dos ateliês de costura de Paris, oferecendo um vasto conhecimento e experiência ao atender clientes de prestígio como Chanel, Dior, Balmain, Courrèges, Jean-Paul Gaultier, entre outros nomes conhecidos da moda francesa.

Os conteúdos sobre o Atelier Sara serão trazidos após o desfile da Paris Fashion Week, já que algumas das peças em desenvolvimento são coleções exclusivas que serão apresentadas na passarela. Entre elas, tive a oportunidade de ver o processo de criação de marcas como Balenciaga e Jean-Paul Gaultier. Voltei ao atelier em várias ocasiões e pude acompanhar diversas etapas do trabalho. Portanto, em breve teremos muitos conteúdos interessantes sobre eles!


Atelier Sara Couture

5 Rue Gabriel Laumain, 75010 Paris




DIA 4 - QUARTA-FEIRA: PREMIÈRE VISION E IA


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O segundo dia na Première Vision foi intenso e logo cedo, participei, a convite da Aliança Europeia do Linho e do Cânhamo, do talk "Dominar sua Cadeia de Valor: Uma Alavanca Fundamental para Marcas Comprometidas com o Ecodesign e a Transparência".


A apresentação destacou como o setor de linho europeu certificado implementou um sistema digital de rastreabilidade inovador e robusto, ou seja, uma ferramenta estratégica para marcas e varejistas que buscam transformação sustentável real. As discussões reuniram perspectivas cruzadas de diferentes segmentos, criando um panorama riquíssimo sobre práticas de ecodesign e transparência.


Ao longo do dia, mergulhei na feira, conversando com expositores e realizando pesquisas. Também fui convidada pela Associação de Moda e Têxtil do Reino Unido para conhecer mais de perto seu trabalho. Assim como a Aliança Europeia, eles demonstram forte compromisso com a sustentabilidade, unindo inovação tecnológica à valorização de uma herança e know-how centenário.


Outro momento especial foi visitar a Maison des Exceptions, um espaço exclusivo que celebra o artesanato de excelência. Ali, artesãos de todo o mundo expõem criações únicas, mostrando que tradição e modernidade podem dialogar de forma inspiradora.


Além da agenda voltada à sustentabilidade, aproveitei para acompanhar palestras sobre Inteligência Artificial, um tema que venho estudando de forma aprofundada. Recentemente, inclusive, estive no Vale do Silício para participar de um curso dedicado a explorar como aplicar essas tecnologias na moda. É fascinante perceber como a IA pode contribuir desde a criação de peças até a personalização e a experiência do consumidor.


Em breve, compartilharei aqui no blog conteúdos exclusivos sobre as principais aplicações da IA no setor, bem como mais detalhes sobre os projetos sustentáveis que conheci na PV. Este segundo dia reafirmou minha convicção de que o futuro da moda passa pela integração entre responsabilidade ambiental, valorização do saber artesanal e adoção inteligente da tecnologia.



DIA 5 - QUINTA-FEIRA: PREMIÈRE VISION E ATELIER SARA


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Mais um dia de PV, e no último dia a feira tem uma programação especial para os estudantes de moda e retorno ao Atelier Sara, onde pude seguir acompanhando o processo completo de desenvolvimento da coleção para a PFW. E que em breve trarei vários conteúdos contando tudo que aprendi por lá!


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DIA 6 - SEXTA-FEIRA: MUSEUS


MUSEU DO LOUVRE


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O dia começa cedo para uma experiência inesquecível no Louvre: fui visitar, ao lado da querida Edis Lima, a exposição “Louvre Couture” que é a primeira dedicada exclusivamente à moda em toda a história do museu!


Foram 231 anos de espera até que a instituição abrisse espaço para um diálogo tão direto entre arte e moda. E que diálogo, caras leitoras!


Em 9.000 m², encontramos cerca de cem criações icônicas de mestres como Cristóbal Balenciaga, Karl Lagerfeld para Chanel, Yohji Yamamoto e Iris van Herpen, expostas em meio às preciosidades do departamento de Objetos de Arte. Um verdadeiro encontro entre o intemporal e o contemporâneo.


O impacto de ver, lado a lado, vestidos de alta-costura e relíquias históricas é surreal Cada peça não apenas vestia um corpo, mas narrava séculos de estética, poder, consumo e criatividade. A sensação era de que os corredores do Louvre respiravam moda tanto quanto história.


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E viver isso com a Edis Lima, brasileira que vive na França há mais de 20 anos, guia conferencista nacional e credenciada pelo Ministério francês do Turismo e da Cultura, fez toda a diferença. Sua condução trouxe camadas de interpretação, detalhes e histórias que tornaram a visita ainda mais profunda e inspiradora. Inclusive, depois dessa experiência com a Edis, já quero visitar as próximas exposições com ela!


Bom, vamos a mostra, que reúne criações de 45 estilistas, de gigantes como Chanel, Dior, Givenchy, Louis Vuitton e Balenciaga até nomes visionários mais recentes, com peças que datam de 1960 até hoje.


É uma curadoria que não apenas apresenta a moda como arte, mas também como documento vivo de cada época.


O “Louvre Couture” nasce para encantar também novas gerações, atraindo jovens, parisienses e apaixonados pela moda. Uma oportunidade rara e histórica que deixa claro: a moda, assim como a arte, é capaz de atravessar séculos e continuar a nos transformar.


Saí de lá com a sensação de ter vivido um daqueles momentos que marcam a trajetória, tanto como pesquisadora, como professora e como apaixonada pela moda.


E mee peguei pensando: se o Louvre só agora abriu espaço para a moda em sua programação, quantas histórias ainda podem ser contadas a partir desse diálogo entre roupas e museus?



Museu do Louvre

75001 Paris, França 



MUSEU YVES SAINT LAURENT


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Após a visita ao museu do Louvre, fui ao Museu Yves Saint Laurent, onde as flores estão no centro das atenções na nova exposição intitulada "Les Fleurs d’Yves Saint Laurent".


Esta mostra celebra a paixão que Yves compartilhava com artistas e escritores, especialmente Marcel Proust. A exposição enfatiza a relação entre a obra de Saint Laurent, a flora e a literatura, apresentando aproximadamente trinta peças e desenhos que ilustram essa conexão.


Para Saint Laurent, as flores eram mais do que simples adornos; eram uma linguagem, uma fonte inesgotável de inspiração que permeou toda a sua carreira. Desde os bordados minuciosos que evocam a delicadeza de uma pétala até as estampas vibrantes que celebram a exuberância da natureza, cada peça é um testemunho de sua paixão pela flora.


O que torna esta mostra singular é a conexão profunda entre a paixão de Yves Saint Laurent pela natureza e sua admiração pela literatura, em especial pela obra de Marcel Proust. Assim como Proust usava as flores para evocar memórias e sensações em sua escrita, Saint Laurent as transformava em criações que contavam histórias, homenageando a figura feminina ao cobri-la com a beleza da natureza.


Ao caminhar pelas salas do museu, tem-se a sensação de folhear as páginas de um romance, onde cada vestido é um poema costurado em tecido.


Instalado na antiga maison do estilista, o que faz com que eu me emocione toda vez que visito, o Museu Yves Saint Laurent proporciona uma experiência de intimidade e memória. O visitante é convidado a adentrar o universo pessoal do criador, sentindo sua presença em cada croqui e em cada detalhe do ateliê preservado. A exposição floral intensifica essa atmosfera, revelando o lado mais sensível e poético de Saint Laurent.


Musée Yves Saint Laurent Paris


LE COMPTOIR DE LA GASTRONOMIE


E já que estou compartilhando um pouco sobre os aspectos culturais desta viagem, não poderia deixar de mencionar uma experiência gastronômica inesquecível: um jantar no histórico Le Comptoir de la Gastronomie, localizado em Les Halles. Fundado em 1894, o restaurante é mencionado até em textos de Émile Zola e se tornou referência pela tradição no foie gras.


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A casa tem uma história curiosa e muito ligada à tradição familiar, onde Dominique Loï, apaixonado por gastronomia, assumiu em 1989 a loja de foie gras na rue Montmartre, transformando-a em um endereço de culto para os amantes da charcutaria artesanal. Hoje, suas filhas mantêm vivo esse legado, atualizando a tradição sem abrir mão da autenticidade.


Poucas casas em Paris podem se orgulhar de produzir todos os seus produtos artesanalmente e no próprio local: foie gras, magret, salsichas, boudins, salmão defumado… tudo feito por lá.


No meu jantar, o destaque foi, claro, o foie gras, servido da forma mais clássica e impecável possível. Mas o que me marcou de verdade foi sentir que, ao comer ali, eu participava de uma tradição viva da cidade: aquela que une sabor, história e cultura em cada prato.


Le comptoir de la Gastronomie

34 rue Montmarte 75001


DIA 7 - SÁBADO: MAIS MUSEUS E VOLTINHAS PELO MARAIS


PALAIS GALLIERA


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O dia começa cedo e vou caminhando pelo Marais sem pressa, pois o dia estava lindo e eu queria ver uns cosméticos na Caudalie e na Aēsop. Normalmente fico em jejum até o almoço, mas passando pelos lindos cafés, até fiz uma parada para um croissant.


Após, sigo para o Palais Galliera, onde vou conferir a exposição "Stephen Jones, Chapeaux d'Artiste". Esse é meu museu favorito, tanto é que tem várias menções e conteúdos dele por aqui.


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Além dessa exposição também está acontecendo “La Mode en Mouvement #3. A número #1 eu consegui visitar no ano passado e até registrei aqui, mas a #2 aconteceu há alguns dias e infelizmente não consegui acompanhar.

Esta terceira edição aborda a adaptação das roupas femininas para a prática de atividades físicas no final do século XIX, a gradual masculinização do guarda-roupa feminino e, principalmente, a introdução do sportswear no vestuário cotidiano.


Confesso que foi uma das minhas temáticas preferidas, porque reúne de forma muito didática a história da moda e a influência direta do esporte na construção do vestuário casual que conhecemos hoje.


O que mais me encantou foi perceber como cada época incorporava suas próprias tecnologias, tecidos e soluções estéticas para conciliar conforto, mobilidade e estilo. As peças da década de 1930, por exemplo, chamaram muito minha atenção. Nesse período, o sportswear já começava a se consolidar não apenas como roupa de prática esportiva, mas como uma escolha cotidiana para lazer, viagens e momentos de descontração. Tecidos mais leves como o jersey de lã e o algodão eram amplamente usados, trazendo respirabilidade e liberdade de movimento, algo revolucionário em comparação às silhuetas rígidas das décadas anteriores.


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Outro detalhe fascinante dos anos 30 é como as roupas refletiam um certo equilíbrio entre elegância e funcionalidade: calças largas inspiradas na alfaiataria masculina, saias mais soltas, camisas de corte prático e até vestidos esportivos que se ajustavam melhor ao corpo, permitindo caminhar, pedalar ou até praticar tênis com muito mais facilidade.


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Essa década também marcou o início da associação do sportswear a um estilo de vida moderno e ativo, reforçando uma imagem feminina independente e dinâmica, que já não se restringia apenas ao ambiente doméstico.


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Poder observar essas transformações de perto, com tantos detalhes nos acabamentos, costuras e materiais, foi uma experiência riquíssima não só do ponto de vista estético, mas também histórico e cultural. Entender como o vestuário evoluiu a partir das demandas esportivas é perceber que a moda sempre dialogou com os movimentos sociais e com a busca por liberdade e isso continua extremamente atual.



Palais Galliera

10 av. Pierre 1er de Serbie 75116 Paris



GRAND PALAIS - DU CŒUR À LA MAIN: DOLCE & GABBANA


Depois, na sequência fui ao Grand Palais para visitar a exposição Dolce & Gabanna e que parou Paris!


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Cada peça apresentada na exposição reflete o compromisso de Domenico Dolce e Stefano Gabbana com a excelência artesanal. É fascinante poder observar de perto bordados sofisticados, detalhes minuciosos e a perfeição aplicada na confecção de roupas e acessórios, revelando um cuidado quase escultórico em cada criação.

Essa fusão de técnicas e estilos não traduz apenas a trajetória da maison, mas também ecoa a herança cultural da Itália, evidenciando como a tradição artesanal segue sendo uma fonte inesgotável de inspiração e identidade para a marca.


O ponto alto da exposição, para mim, foi a cenografia. O diálogo entre cenário, iluminação e música transforma a visita em uma experiência imersiva e sensorial, capaz de emocionar e transportar o público para diferentes universos a cada sala. Cada ambiente parece contar uma história própria, reforçando o poder narrativo da moda.



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Outro espaço que me marcou bastante foi o ateliê, onde era possível ver dos croquis aos tecidos, dos moldes às aplicações de bordados, tudo isso trouxe uma dimensão ainda mais humana e intimista à exposição.


É como se o visitante fosse convidado a entrar nos bastidores da marca e acompanhar a transformação de uma ideia em uma obra de arte. Essa parte evidencia não apenas a técnica, mas também a paixão e a dedicação que sustentam o DNA da Dolce & Gabbana.


Grand Palais

7 avenue Winston Churchill, 75008 Paris



DIA 8 - DOMINGO: MAIS MUSEUS E PASSEIOS


MUSÉE DU QUAI BRANLY


Acordei cedo, como de costume, e resolvi caminhar pelas margens do Sena antes de encontrar meu amigo Bruno para visitar a exposição Au fil d’or, no Musée du Quai Branly - Jacques Chirac.


Já comentei sobre esse museu aqui no blog, e volto a reforçar o quanto ele é especial: ainda que não seja um museu dedicado à moda em si, é um espaço fundamental para quem estuda ou ama o tema. Isso porque se trata de um museu antropológico, cujo acervo privilegia a indumentária ancestral, os tecidos, ornamentos e rituais que contam a história das culturas do mundo através daquilo que se veste.


É, portanto, um verdadeiro laboratório de referências para compreender como a moda de hoje bebe de fontes muito mais antigas do que imaginamos e que além das exposições temporárias e acervo, conta com uma livraria focada no tema, então é possível encontrar verdadeiras preciosidades por lá.


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A exposição Au fil d’or foi uma surpresa. O fio de ouro, usado há séculos em diferentes civilizações, aparece ali em toda a sua riqueza e diversidade: desde ornamentos e trajes cerimoniais até peças de alta-costura contemporânea.


A curadoria conseguiu unir moda e tradição em um mesmo fio condutor e literalmente de ouro. Entre os destaques, estavam criações da Dior, bordados icônicos da Maison Lesage e peças deslumbrantes da estilista chinesa Guo Pei, que ficou mundialmente conhecida pelo vestido amarelo de Rihanna no MET Gala.


Ver essas obras lado a lado com mantos e adornos históricos reforçou como a técnica do bordado em ouro permanece viva e constantemente reinterpretada.


Mas o ponto alto da visita foi observar a evolução do próprio fio de ouro e suas variações ao longo do tempo.


Descobri, por exemplo, que em certas culturas não se usava apenas o fio metálico tradicional, mas também combinações surpreendentes: fios de seda entrelaçados com ouro, técnicas de laminação que tornavam o material mais maleável, e até experimentos raríssimos com fios extraídos da teia de aranhas-douradas, uma tradição extremamente delicada e quase perdida. Essa diversidade não apenas mostra o valor material do ouro, mas sobretudo o valor simbólico: poder, espiritualidade, prestígio e sacralidade.


Caminhar pela exposição foi como seguir a própria trajetória desse material precioso, atravessando séculos e fronteiras. Cada peça contava uma história: ora de realeza, ora de espiritualidade, ora de pura criatividade artística. E no fim, ficou a sensação de que o ouro, mais do que luxo, é memória, um elo invisível entre passado, presente e futuro da indumentária.


Após a exposicoa continuei o passeio pelas margens do Rio Sena, já que o dia estava ensolarado e convidativo para caminhar sem pressa.



DIA 9 - SEGUNDA-FEIRA: LOJAS DE AVIAMENTO E ATELIER SARA


Precisei voltar às lojas de aviamentos para buscar alguns itens extras que estavam faltando nos trabalhos que estou desenvolvendo no atelier Sara. Essas idas às lojas, apesar de parecerem apenas uma tarefa prática, sempre acabam sendo também um momento de pesquisa: entre linhas, fitas, botões e rendas, descubro novas possibilidades e soluções que muitas vezes acabam inspirando ajustes ou ideias para as criações em andamento.


Aproveitei também para repor meu estoque de telas de moulage. Aqui, o algodão cru, utilizado como base nesse processo, possui características bastante específicas: é mais encorpado, tem uma trama que facilita o manuseio e a visualização das linhas de construção, além de oferecer resistência sem perder a maleabilidade.


Esses detalhes fazem toda a diferença na hora de trabalhar a moulage francesa, pois garantem que o tecido se molde ao corpo do manequim de forma mais precisa e mantenha a estrutura necessária para experimentar volumes, cortes e quedas de tecido.


Ter uma boa tela de moulage é quase como ter um caderno de esboços de alta qualidade: influencia diretamente o resultado final e ajuda a traduzir com clareza a ideia criativa em forma tridimensional. É nesse diálogo entre técnica e experimentação que o processo se torna ainda mais rico e prazeroso


DIA 10 - TERÇA-FEIRA: TEMPO LIVRE E PASSAGES


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Fui até uma passage em busca de um item para minha filha. Para minha surpresa, acabei descobrindo uma loja encantadora de miniaturas na Passage Jouffroy, onde encontrei alguns presentinhos perfeitos para ela, que adora brincar com bonequinhos pequenos. A compra, no entanto, acabou se transformando em uma experiência muito maior: caminhar pelas passagens foi como atravessar uma galeria do tempo, repleta de história, charme e, sobretudo, moda.


As passages surgiram em Paris no fim do século XVIII e início do XIX, quando a cidade começava a se reinventar como capital moderna. Essas galerias cobertas por vidro e ferro protegiam do frio e da chuva, mas rapidamente se tornaram muito mais do que simples atalhos: eram espaços de passeio, lazer e consumo, onde a vida urbana se expressava em todo o seu esplendor.


Foi nelas que a moda parisiense encontrou um palco privilegiado. Antes, o consumo de roupas e acessórios acontecia em feiras ou lojas isoladas; nas passages, o ato de comprar virou espetáculo. As vitrines se tornaram verdadeiros cenários de desejo, exibindo chapéus, tecidos, perfumes e novidades vindas de diferentes cantos do mundo. Ali, a burguesia podia observar, escolher e exibir seu bom gosto.


Essa nova forma de consumir ajudou a consolidar Paris como a capital mundial da moda. Mais do que comprar, passear pelas passagens era um ritual social: observar o que os outros vestiam, comentar as tendências, ser visto.


O conceito do flâneur , ou seja, o observador que caminha sem pressa, absorvendo a atmosfera da cidade, nasceu nesses corredores. E, junto dele, nasceu também o hábito moderno de ver as vitrines, que transformou a moda em espetáculo cotidiano.


Do ponto de vista social, as passagens também democratizaram o acesso à moda. Embora o luxo ainda fosse predominante, pessoas de diferentes classes podiam circular nos mesmos espaços, ver as mesmas vitrines e sonhar com os mesmos objetos. Isso moldou uma nova relação entre moda, desejo e identidade, algo que continua até hoje.


Deixo para vocês uma lista de algumas das passagens mais famosas e que valem muito a visita:


  • Passage des Panoramas (1799 – a mais antiga, com restaurantes, antiquários e lojinhas de curiosidades)

  • Passage Jouffroy (1847 – onde está a charmosa loja de miniaturas e também o Museu Grévin)

  • Passage Verdeau (continuação natural da Jouffroy, cheia de sebos e antiquários)

  • Galerie Vivienne (1823 – talvez a mais elegante, com boutiques refinadas e uma forte conexão com a moda)

  • Galerie Colbert (ligada à Vivienne, com arquitetura imponente e cafés acolhedores)



DIA 11- QUARTA-FEIRA: BIBLIOTECAS


As bibliotecas e acervos de moda também são sempre uma parada imprescindível no meu roteiro de viagem. Durante minhas visitas a esses lugares, tenho a oportunidade de mergulhar em um vasto universo de referências históricas e contemporâneas, essenciais para entender a evolução da moda e suas influências.


Esses espaços guardam um tesouro inestimável de livros, revistas, catálogos e documentos que não apenas me inspiram, mas também ajudam a enriquecer o conteúdo que compartilho com vocês. Acesso a acervos de moda proporciona uma visão aprofundada sobre as tendências passadas, as biografias de estilistas icônicos e a análise de desfiles que marcaram época.


Além disso, a visita a essas bibliotecas e acervos é uma forma de conectar-me com a história da moda e com o trabalho de profissionais que dedicaram suas vidas a esse campo.


Conversar com curadores e especialistas dessas instituições é uma experiência extremamente enriquecedora. Esses profissionais dedicam suas vidas ao estudo e à preservação da história da moda, e sua expertise proporciona insights valiosos que muitas vezes não estão disponíveis em fontes convencionais.


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Em um mundo onde a informação é facilmente acessível, mas muitas vezes distorcida, especialmente com o auge de ferramentas como o ChatGPT e a proliferação de dados não verificados na internet, a voz autorizada de um curador torna-se ainda mais crucial, já que eles não apenas possuem conhecimento profundo sobre as peças e tendências, mas também oferecem contextos históricos e culturais que ajudam a interpretar melhor o que aquelas referências significam para a moda contemporânea.


Além disso, as conversas diretas com esses especialistas nos permitem explorar nuances que poderiam passar despercebidas em fontes mais rápidas e superficiais. Eles podem compartilhar suas experiências pessoais, suas visões sobre o futuro da moda e como as tendências do passado ainda influenciam os designers de hoje.


A riqueza de informações coletadas nessas interações não apenas enriquece a minha compreensão pessoal, mas também fornece conteúdo autêntico e bem fundamentado para compartilhar com vocês. Este diálogo é fundamental para promover um entendimento mais profundo e crítico da moda, ajudando a construir uma base sólida de conhecimento em meio a um mar de informações muitas vezes conflitantes.


E desta vez dediquei boa parte da minha visita à Bibliothèque nationale de France. Ali, fiquei fascinada pelo acervo voltado à arte e à moda, já que a BnF possui um dos maiores, mais ricos e diversificados acervos de livros e documentos de arte no mundo!


A BnF é imponente: abriga cerca de 42 milhões de itens, incluindo livros, periódicos, mapas, manuscritos, partituras, fotografias, moedas, objetos de arte e muito mais. São coleções que atravessam milênios e abrangem todas as formas de expressão cultural.


Mas o destaque para mim foi o acervo específico de arte e moda, onde há coleções preciosas como revistas de moda históricas, como por exemplo, Gazette du Bon Ton, Journal des dames et des modes, e La Brodeuse, além de tratados antigos sobre tingimento de tecidos e cortes de alfaiataria, como o "Livre de géométrie du métier de tailleur" de 1617.


Além disso, fui até a salle Labrouste, espaço da INHA (Institut National d’Histoire de l’Art), cuja coleção começou com a do grande mecenas Jacques Doucet. Hoje, essa biblioteca reúne mais de 1,8 milhão de documentos de arte visual, incluindo 230 mil livros em acesso aberto, sendo uma das maiores bibliotecas especializadas em história da arte do mundo.


E depois dessa agenda tão imersa no universo da moda, reservei os últimos quatro dias antes de voltar para casa para descansar, passear pela cidade e explorar roteiros off moda, se é que isso é realmente possível em Paris.


Nos intervalos, acabei fazendo aquilo que a cidade oferece de melhor: flanar sem pressa, deixando que cada rua, praça e café me revelassem pequenos encantos cotidianos.


Depois sigo para Frankfurt, de onde pretendo fazer alguns passeios e dar sequência às pesquisas para minha tese. Depois volto aqui para compartilhar tudo com vocês. Beijos e até o próximo post!






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