MODA, STARTUPS E INOVAÇÃO: O QUE O VALE DO SILÍCIO PODE ENSINAR AO DESIGNER DE MODA
- Francys Saleh

- 11 de nov. de 2024
- 4 min de leitura

Estar no Vale do Silício foi como mergulhar no epicentro do futuro e há algo de quase magnético naquele pedaço da Califórnia onde tudo parece possíve, onde as ideias ganham forma em laboratórios, garagens e cafés, e onde a palavra inovação não é conceito, mas cultura.
Eu sempre amei tecnologia, mas vê-la de perto, pulsando entre empresas, universidades e mentes inquietas, foi uma das experiências mais inspiradoras da minha vida.
Quando cheguei, levei comigo uma pergunta: o que o Vale do Silício poderia ensinar à moda? A resposta veio em pequenas doses, seja em conversas com empreendedores, palestras, workshops, em visitas a startups, e em pitches de startups que pareciam saídas de filmes.
Percebi que a moda e a tecnologia, apesar de universos aparentemente distantes, têm um ponto em comum essencial: ambas nascem da curiosidade e da vontade de transformar o mundo.
O APRENDIZADO COM AS STARTUPS
No Vale, ninguém espera que algo nasça perfeito. O erro faz parte do processo. As startups começam pequenas, testando hipóteses, ouvindo seus usuários, ajustando e tentando de novo. É o oposto da rigidez que tantas vezes ainda domina o sistema da moda, com suas coleções fixas, cronogramas imutáveis e margens reduzidas para experimentar.
Lá, aprendi que a lógica da prototipagem rápida, ou seja lançar, ouvir, ajustar e relançar, é uma forma poderosa de criar. E se isso funciona para tecnologia, por que não para a moda? Quando trabalhei no desenvolvimento de sapatos, lembro o quanto teria sido mais eficiente aplicar esse raciocínio experimental: criar um modelo, testar com um pequeno grupo, observar reações e ajustar antes de escalar. É o mesmo princípio das startups, mas aplicado ao design de produto, à costura e até à estética.
O DESIGN ALÉM DA ROUPA
Estar na Califórnia também me fez repensar o que significa ser designer de moda. Ser designer, hoje, é mais do que desenhar roupas. É resolver problemas, criar experiências, projetar identidades. É entender o comportamento humano e traduzir isso em forma, textura, cor e mensagem.
Lá, por exemplo, vi como a inteligência artificial está sendo usada para separar fibras têxteis e dar nova vida a tecidos, algo que conecta ciência de dados, sustentabilidade e estética. Essa interseção me fascinou. A moda do futuro não vai nascer apenas das passarelas, mas dos laboratórios, dos hubs criativos, das conversas entre designers e engenheiros.
E talvez esse seja o ponto: o designer que se fecha em sua própria disciplina perde repertório. Já o que se permite dialogar com outras áreas ganha novas ferramentas para criar algo realmente transformador.
MODA COMO PROCESSO, NÃO PRODUTO
O Vale do Silício me ensinou que a inovação não é um evento e sim um estado permanente. Ali, ninguém parece satisfeito com o “pronto”. Tudo é visto como beta, em movimento, passível de ser melhorado. Essa filosofia é incrivelmente valiosa para quem trabalha com moda. Porque, no fundo, uma coleção também é um experimento, um diálogo aberto com o público.
As marcas que entendem isso permanecem vivas. Elas revisitam materiais, reformulam narrativas, exploram colaborações improváveis, testam novas tecnologias e se reinventam com coragem. Aquelas que se fixam em uma fórmula acabam, cedo ou tarde, se tornando previsíveis e, portanto, esquecíveis.
Moda, assim como tecnologia, precisa ser fluida. Precisa respirar o tempo presente, observar o que está por vir e ter disposição para mudar.
ESTAR NA CALIFÓRNIA
Eu sempre soube que queria conhecer o Vale do Silício, mas não imaginei o quanto essa experiência me transformaria. Caminhar pelos corredores de Stanford, observar laboratórios de robótica, ouvir jovens apresentando ideias para investidores, e depois voltar para o meu caderno de anotações para pensar sobre tecidos e moulage, foi como conectar dois mundos que, no fundo, compartilham a mesma essência: a criação.
A energia da Califórnia é contagiante. Tudo parece possível, desde que você tenha uma boa ideia e coragem para colocá-la em prática. Voltei de lá com a sensação de que o futuro da moda não está apenas nas mãos dos grandes estilistas, mas também dos programadores, dos engenheiros de materiais, dos cientistas de dados e, claro, de todos os criativos dispostos a pensar diferente.
O que o Vale do Silício me ensinou é que inovação é, antes de tudo, uma atitude.
Ser designer de moda hoje é ser curioso, multidisciplinar, ousado o suficiente para testar novas rotas. É aplicar o pensamento das startups, ou seja, testar, errar, ajustar, evoluir, ao processo criativo. É entender que cada coleção é uma versão, não um fim.
Por isso, o convite que deixo aqui é esse: olhe para fora do seu ateliê, da sua mesa de modelagem, das referências que você já domina. Observe o que está acontecendo na tecnologia, no design de produto, na engenharia de materiais, na sustentabilidade. Tudo isso faz parte do mesmo ecossistema criativo que vai definir o futuro da moda.
No fim, percebi que o que realmente conecta o Vale do Silício à moda é a busca por sentido, por criar algo que não apenas vista o corpo, mas também reflita a inteligência, o tempo e a alma de quem cria.
Logo mais trarei mais insights sobre essa imersão, acompanhe os posts novos aqui no blog. Um beijo e até o próximo!
















